Luis Duraes é CEO e fundador do software Kigreen e da UCO Network, uma rede internacional de operadores no setor dos óleos alimentares usados (OAU) e outros resíduos, que utiliza a potencialidade da tecnologia descentralizada da blockchain para criar processos com maior segurança e confiança para todas as partes envolvidas na venda e troca de matérias-primas, destinadas a produção de biocombustíveis. Além disto, Luis é Business Process Owner da empresa Treasure Fusion IT, prestando serviços fundamentais a nível das tecnologias da informação e marketing. Fique a conhecer mais sobre a UCO Network, associada da ABA, nesta entrevista como o seu CEO.
A UCO Network é um marketplace que nasce da perceção de que existe uma procura crescente, por parte de produtores de biocombustíveis, por matéria-prima de resíduos. Nesse processo, compreendemos que existiam alguns desafios e que havia uma grande necessidade de mudança na cadeia de fornecimento de OAU. Assim surge a UCO Network, orientada pela missão de desenvolver “Trust, Traceability and Transparency” e com base na tecnologia descentralizada da blockchain, que nos permite criar um protocolo e marketplace em linha com a diretiva RED II, fundamental para a transição energética e preservação do meio ambiente.
Como o nome indica, estamos a estabelecer uma rede de fornecedores e clientes no setor dos OAU para não só facilitar a compra e venda das matérias-primas, como para assegurar a segurança do processo e das partes envolvidas, dos dados e informações envolvidos, e a fiabilidade no produto comprado.
Em primeiro lugar, percebemos que era importante trazer maior confiança às bases de dados utilizadas pelos auditores. Com tecnologia incorruptível como a blockchain isto tornou-se possível. Depois, focámo-nos na rastreabilidade e na transparência do processo de fornecimento, de forma a aumentar a garantia, qualidade e segurança dos produtos, clientes e fornecedores. Também a nível de contratos é fundamental implementar blockchain, uma vez que é essencial garantir segurança e confiança na transação monetária; além disso, caso surja algum tipo de litígio ou incumprimento de contrato, é possível averiguar informação e executar um plano de forma mais fácil, imediata e fidedigna.
Na UCO Network, estamos a trabalhar para integrar no nosso sistema produtores e vendedores de todo o mundo, já que a blockchain permite criar processos de grande dimensão e à escala global com segurança e confiança. Acreditamos no potencial que os resíduos, como os OAU, mas também margarinas e molhos (fora de especificação), representam para a transição energética e, assim, lidamos com produtos que possam ser processados e transformados em biocombustíveis para auxiliar esta mudança necessária. Neste momento, já estamos a operar com cerca de 20 mil toneladas de matéria-prima. Até 2025, contamos ter 500 utilizadores na nossa plataforma, a recolher 600 mil toneladas ano de matérias nos produtores iniciais - estamos a falar, sensivelmente, de 20% do mercado que prevemos estar disponível nessa altura.
Quando a procura suplanta a oferta, sabemos que pode existir pouco controlo sobre os produtos e processo de compra. Assim, a blockchain vem permitir criar registos fidedignos tanto sobre quem vende como sobre quem compra, instaurando um processo de compliance desde o momento em que se inicia a troca. Reunindo todas as informações sobre as partes envolvidas e sem qualquer possibilidade de alterar, corromper ou falsificar estes dados, os produtores conseguem encontrar um ponto de confiança para fornecimento de matéria-prima. A plataforma da UCO Network vem permitir comprovar a origem das matérias, algo que até aqui não acontecia, através do controlo e segurança que estamos a implementar.
Desde logo, existe uma procura crescente por matéria-prima, o que revela como a valorização dos OAU está a ganhar cada vez mais destaque. Com esta necessidade, vemos também surgirem mais fornecedores e estamos também a integrar soluções que acolham essa mudança. Assim, a UCO Network está a tornar-se mais complexa e a oferecer novos serviços e outras funcionalidades, fomentando a criação de pequenos negócios de fornecimento de matérias-primas. Ao apoiarmos pequenos operadores a recolher estes resíduos, estamos também a valorizar o seu ciclo de vida e a promover uma economia circular.