12/2/2025

Entrevista Goldenergy: "O biometano é uma solução com impacto ambiental e económico, que pode reduzir emissões e criar valor local"

A Goldenergy é uma comercializadora portuguesa de eletricidade 100% verde e de gás natural, pertencente ao grupo suíço Axpo. Com mais de 12 anos de atividade em Portugal, a empresa destaca-se pelo seu forte compromisso com a sustentabilidade e com a transição energética. Foi precisamente esse compromisso que os levou, em agosto de 2025, a aderir ao Grupo de Trabalho Permanente de Gases Renováveis da ABA, com o objetivo de promover a bioenergia avançada e o seu papel fundamental para uma economia mais circular.

Nesta conversa, Óscar Delfim, diretor comercial B2B da Goldenergy, partilha a visão e a motivação da empresa para apostar no biometano, bem como as suas principais ambições neste mercado:  

  1. São reconhecidos pela vossa aposta na democratização do acesso a energia limpa em Portugal. Que princípios orientam esta missão e como se refletem na estratégia da empresa?

A Goldenergy acredita que a energia limpa deve ser acessível a todos. A nossa missão passa por democratizar o acesso à energia verde em Portugal, garantindo que sustentabilidade e poupança andam de mãos dadas. Baseamo-nos em três princípios: sustentabilidade, inovação e proximidade. Estes valores refletem-se na forma como operamos, oferecendo eletricidade 100% verde a preços justos e investindo em soluções inovadoras que promovem a transição energética. Estamos também empenhados em apoiar o desenvolvimento de gases renováveis, como o biometano, que desempenham um papel essencial na descarbonização do setor energético e na construção de uma economia mais circular e sustentável.

  1. Ao longo dos últimos anos, têm vindo a consolidar a vossa presença no mercado. Quais têm sido as principais etapas desta jornada e os marcos mais relevantes para a vossa empresa?

Um dos marcos mais importantes foi a afirmação da empresa como fornecedora de eletricidade 100% verde, democratizando o acesso à energia limpa e tornando-a uma opção viável para milhares de consumidores. Mais recentemente, destaca-se a realização da primeira importação de biometano e o fornecimento deste gás renovável a empresas de referência, como o grupo Vila Galé e as indústrias Primus, Recer e Aleluia.  

  1. Aderiram, recentemente, ao Grupo de Trabalho Permanente de Gases Renováveis. De que forma é que esta participação consolida a vossa missão rumo a uma trajetória verde?

A integração da Goldenergy no Grupo de Trabalho Permanente de Gases Renováveis representa um passo natural na nossa missão de acelerar a transição energética em Portugal. Esta participação permite-nos colaborar ativamente com outros agentes do setor na definição de soluções que promovam o desenvolvimento do biometano e de outros gases renováveis. Ao juntarmo-nos à ABA, reforçamos o nosso compromisso com uma economia mais sustentável e circular, alinhada com a experiência internacional do Grupo Axpo neste domínio.  

  1. O que motivou esta parceria com a ABA e quais os principais objetivos?

A parceria com a ABA surgiu do reconhecimento de que a colaboração é essencial para acelerar a transição energética em Portugal. A ABA tem desempenhado um papel importante na promoção da bioenergia e dos biocombustíveis avançados, e a Goldenergy partilha desta mesma visão. Ao integrar o Grupo de Trabalho de Gases Renováveis, queremos contribuir com a nossa experiência para o desenvolvimento do mercado de biometano em Portugal. O nosso principal objetivo é impulsionar soluções que tornem os gases renováveis uma alternativa viável e acessível, ajudando o país a reduzir as emissões e a fortalecer a independência energética.

  1. Como veem a aposta de Portugal em soluções como o biometano? Em termos de viabilidade económica, quais são os principais fatores que determinam a competitividade do biometano face a outros vetores energéticos?

O biometano trata-se de uma solução com impacto positivo tanto ambiental como económico, que pode reduzir emissões e criar valor local. A sua viabilidade depende sobretudo da existência de um quadro regulatório estável, do acesso a incentivos que tornem os projetos financeiramente sustentáveis e do investimento em infraestruturas que permitam a sua injeção na rede. Com estes elementos, o biometano pode tornar-se um vetor energético altamente competitivo e uma alternativa real aos combustíveis fósseis.

  1. Como veem o vosso contributo para acelerar soluções como o biometano em Portugal? Que papel poderá ter o biometano na estratégia de diversificação energética da Goldenergy, num futuro próximo?

A Goldenergy tem vindo a dar passos concretos para impulsionar o biometano em Portugal. Em abril de 2025 realizámos a primeira importação de biometano e, desde então, já fornecemos este gás renovável ao grupo hoteleiro Vila Galé e a empresas como a Primus, Recer e a Aleluia, no setor da cerâmica. Estes marcos demonstram o nosso compromisso em acelerar soluções energéticas sustentáveis e apoiar a descarbonização de diferentes setores da economia.

Com a experiência e o know-how do Grupo Axpo, queremos ainda continuar a desenvolver projetos que promovam a produção e o consumo de biometano em território nacional. Vemos o biometano como um complemento natural à nossa oferta de energia 100% verde e um pilar essencial na diversificação do nosso portefólio energético. Num futuro próximo, pretendemos disponibilizar aos nossos clientes soluções baseadas em gases renováveis, reforçando o compromisso com uma transição energética justa, sustentável e economicamente viável.

  1. Portugal tem agora um enquadramento legal mais claro para o biometano, mas os projetos ainda são escassos. Que barreiras regulatórias ou económicas continuam a dificultar a escalabilidade da produção? E que incentivos considera essenciais nesta fase?

Apesar dos avanços recentes, o setor do biometano continua a enfrentar barreiras significativas. Em primeiro lugar, o processo de licenciamento permanece complexo e moroso, exigindo uma coordenação mais eficaz entre as diversas entidades envolvidas, nomeadamente ambientais, municipais e regulatórias. É fundamental estruturar um modelo de fast-track regulatório, com prazos máximos e guias técnicas claras, que permitam que as várias etapas do processo ocorram de forma mais eficiente.

Do ponto de vista económico, existe também necessidade de clarificar o modelo de partilha de custos entre promotores e operadores de rede, assegurando uma distribuição justa e previsível. Além disso, muitos projetos enfrentam limitações logísticas, nomeadamente a falta de locais que combinem disponibilidade de matéria-prima com proximidade à rede. A criação de modelos de conexão virtual entre projetos poderia ajudar a ultrapassar este obstáculo, permitindo a injeção do biometano na rede primária e reduzindo custos operacionais.

Mais do que novos incentivos financeiros, o essencial nesta fase é garantir previsibilidade e clareza regulatória, de forma a dar confiança aos investidores e permitir que os projetos avancem do papel para o terreno.

  1. A eletrificação e os gases renováveis, embora muitas vezes distantes em termos de incentivos, devem ser um caminho complementar. Como veem o equilíbrio entre estas duas frentes na estratégia nacional?

Consideramos que são caminhos complementares. A eletricidade verde é essencial para descarbonizar grande parte do consumo energético, mas há setores onde o biometano pode ter um papel mais eficiente, como na indústria ou nos transportes pesados. O equilíbrio passa por integrar ambas as soluções de forma estratégica, garantindo que cada uma é usada onde gera maior valor ambiental e económico.

  1. Quais são os próximos passos da Goldenergy em termos de expansão da sua atividade?

Para a Goldenergy, é clara a vontade de fazer mais e melhor no caminho da transição energética. A nossa ambição é estar presente em todas as fases da cadeia de valor do biometano, desde a produção até à comercialização, contribuindo de forma ativa para a descarbonização do setor energético nacional.

O nosso objetivo passa por desenvolver um portefólio sólido de projetos de produção de biometano em Portugal. Atualmente, temos um projeto no norte do país em fase avançada de licenciamento, e estamos empenhados em identificar novas zonas estratégicas, onde possamos aliar a necessidade de tratamento de resíduos ao potencial de redução das emissões e de substituição do gás natural de origem fóssil.

Reconhecemos também a importância de promover soluções descentralizadas, capazes de chegar a regiões com maior dificuldade de acesso a gás natural e eletricidade, reforçando assim o nosso compromisso com uma transição energética inclusiva, sustentável e acessível a todos.