12/27/2021

Entrevista Reciclimpa: “o nosso trabalho começa no aconselhamento do óleo alimentar mais adequado e termina na sua recolha e tratamento”

No ano em que o mundo deu as boas-vindas a mais um século, em Portugal, mais precisamente no Algarve, nasceu a Reciclimpa, empresa pioneira no tratamento holístico dos óleos alimentares. Para conhecermos melhor a história de uma das mais recentes associadas da Associação de Bioenergia Avançada, falámos com Fernando Jerónimo, sobre a ambição de contribuir para um amanhã melhor.

            

Como e com que propósito nasceu a Reciclimpa?

FJ: A Reciclimpa nasceu em 2000 e foi pioneira em Portugal no tratamento holístico dos óleos alimentares. Isto é, desde a investigação da qualidade do óleo utilizado, venda, distribuição, filtragem e limpeza das fritadeiras até ao encaminhamento dos resíduos para reciclagem. Os nossos clientes são toda a indústria alimentar e domésticos na recolha da OAU.

O nosso propósito sempre foi o de ajudar as empresas e as famílias a utilizarem óleo alimentar de acordo com requisitos legais e ambientais e ser um destino de eliminação seguro para estes resíduos. Nascemos sob a alçada de um franchising de limpeza de fritadeiras e filtragem de óleos alimentares, a FiltaFry, e hoje oferecemos um serviço holístico que só foi possível porque fomos estudando e crescendo com o mercado. Estivemos atentos às suas necessidades e soubemos posicionar-nos.

Os nossos serviços são:

- Tratamento e recolha de OAU;

- Análises e registos à qualidade do óleo alimentar em utilização;

- Filtragem ou descarte, e limpeza de fritadeiras;

- Limpeza de filtros de exaustão de gordura;

- Limpeza de sistemas de exaustão e de gorduras;

- Tratamentos biológicos de esgotos de gorduras;

- Limpeza de sistemas AVAC, torres de arrefecimento, tanques de água, etc. (Legionela)

- Recolha de velas, rolhas e sabão;

- Venda de produtos para restauração;

- Entre outros;

 

Qual é a principal preocupação da Reciclimpa?

FJ: Duas décadas depois, a ambição da Reciclimpa continua a ser: estudar as necessidades dos clientes e desenvolver serviços e produtos de qualidade adaptados e com um custo justo, no cumprimento de todos os requisitos de higiene e segurança alimentar e ambiental.

 

Qual foi o maior desafio deste negócio?

FJ: Quando criámos a Reciclimpa, fizemo-lo sob a alçada de um franchising inglês – A FiltaFry. Adaptámos o negócio à realidade portuguesa e para aquelas que eram as nossas ambições. Não queríamos só limpar fritadeiras, queríamos ajudar os nossos clientes em todas as etapas da utilização dos óleos.

Assim, acreditamos que o primeiro passo deveria ser garantira qualidade dos óleos utilizados durante a confeção dos alimentos. Sabemos que a fritura é um processo que envolve temperaturas muito elevadas e que a escolha do óleo difere consoante o tipo de cozinha. Por isso, o primeiro passo e o nosso maior desafio nos primeiros tempos  da Reciclimpa foi conhecer os hábitos de fritura dos clientes e criar um serviço adaptado às necessidades de cada um. Fomos analisando, filtrando ou descartando óleo, e limpando fritadeiras, e fomos aprendendo. Vendo, aprendendo e criando serviços de acordo com as necessidades. Este é o nosso maior desafio.

Consegue explicar-nos o que é o “tratamento dos óleos alimentares de uma forma global”?

FJ: Sim. Quando dizemos “de uma forma global” queremos dizer que o nosso trabalho vai além do tratamento dos OAU. O nosso trabalho começa na escolha do óleo que melhor se adapta às necessidades dos nossos clientes, passa pela monitorização da sua qualidade através de testes aos compostos polares, pela filtragem de óleo, limpeza das fritadeiras e recolha e encaminhamento dos OAU para biodiesel.

 

A Reciclimpa tem um área de atuação bastante abrangente. Existem números indicativos da quantidade de resíduos recolhidos?

FJ: A Reciclimpa tem, atualmente, quatro mil pontos de recolha e cerca de 300 oleões, que, em conjunto, possibilitam a recolha de cerca de 1 milhão de litros de OAU por ano.

A correta gestão do OAU ajuda a resolver inúmeros problemas ambientais e de higiene e segurança alimentar, pelo que, além dos óleos, recolhemos, anualmente, 200 a 300 toneladas de separadores de gorduras e limpamos, consoante a época do ano, entre 300 e 800 filtros de extração de gorduras por dia. Limpamos hotes, condutas e sistemas AVAC, depósitos de água potável, etc.

 

Além de todo este trabalho, existe alguma iniciativa que gostasse de destacar?

FJ: Sim, destacaria duas: a parceria com a Quercus e outra com as Câmaras e escolas municipais. Com a Quercus, por cada mil kg’s de rolhas recolhidas pela Reciclimpa, é plantado um sobreiro. Um sobreiro demora 50 anos a dar cortiça, por isso, é fundamental plantarmos hoje o futuro dos nossos netos e bisnetos.

No nosso dia-a-dia, transportamos barricas de óleos alimentares usados nas nossas carrinhas. Por isso, quando recebemos esta proposta pensámos logo que podíamos utilizar o espaço livre em cima dos recipientes para transportar rolhas usadas, visto que são materiais leves e fáceis de transportar. E, assim, acabamos por rentabilizar as viagens que fazemos, evitando que seja preciso mais um veículo para fazer este trabalho. Fazemo-lo de forma gratuita.

Com as Câmaras e escolas municipais participamos em aulas de sensibilização ambiental relativamente à recolha do OAU nas escolas primárias e lares da terceira idade. Organizamos concursos entre turmas e os vencedores, aqueles que trazem mais óleo usado, são premiados com uma visita guiada às instalações da Reciclimpa, um prémio simbólico, assim como um lanche. Os restantes obviamente também nos podem vir visitar. Estamos bastante orgulhosos por estas iniciativas que, infelizmente, paramos devido à pandemia, mas que pretendemos retomar logo que possível.

 

E, agora, um caso de sucesso que queira acrescentar.

FJ: Penso que toda a história da Reciclimpa é, por si só, um caso de sucesso. Esta empresa surgiu de uma conversa entre dois amigos quando trabalhei em Cabo Verde como diretor hoteleiro. Conversa essa que começou porque eu não me sentia realizado no emprego que tinha, para além de estar com saudades de viver com a minha família que estava em Portugal. O meu amigo, que sabia disso, quis puxar-me para um negócio que tinha visto numa revista de franchising. Ele acabou por emigrar e eu fiquei de olho no negócio.

Era um negócio com origem em Inglaterra e que se dedicava à limpeza de fritadeiras. Então, quando vim de férias a Portugal, decidi ligar para o franchising na Inglaterra e perceber se podíamos importar a ideia. Na altura, já tinham vendido a  marca para a Península Ibérica. Fizemos uma proposta à empresa que tinha comprado e acabamos por ficar com o franchising do Algarve. Agora temos Portugal inteiro. Apesar de durante as férias ter-me empregado, como diretor hoteleiro, num dos mais prestigiados hotéis de 5 estrelas do Algarve, nos tempos livres limpava fritadeiras e, em conjunto com a minha sócia Ana Bento trabalhamos no projeto que viria a ser a Reciclimpa.

Mais de duas décadas depois, posso dizer que estamos numa fase muito positiva. Temos projetos em mente, estamos a implementar novas tecnologias, a fechar parcerias internacionais, entre outros. Por tudo isto, considero que, apesar de o último ano ter sido árduo, a pandemia acabou por nos ajudar a ter tempo para pensar e inovar. Criamos uma nova imagem, estamos a renovar a frota, colocar bacias de retenção em todos os carros, adquirir uma nova caldeira para aquecimento de OAU, construir uma nova ETAR ou reestruturar a atual, instalar painéis fotovoltaicos, etc. Em breve vamos iniciar a implementação de sistemas inovadores de limpezas industriais.

Ficou por referir que somos uma empresa PME líder desde 2014, Aplauso 2015 e Excelência 2020, para além da nossa certificação ISCC.