12/28/2021

Neutralidade carbónica em 2050: o contributo dos casos de sucesso em Portugal

Em julho destacámos o contributo da Eco-Oil, da Prio Bio e da VALPI Bus para a descarbonização da economia nacional. Contámos que quando algumas delas iniciaram atividade ainda o termo “reciclado” não era bem recebido, muito menos quando associado ao combustível, e nem se falava na possibilidade de produzir combustíveis e biocombustíveis a partir de matérias-primas residuais.

Hoje falamos de outros três casos de sucesso associados à recolha, tratamento, operação, gestão e refinação de resíduos, e à produção e ao fornecimento de produtos intermédios para a indústria dos biocombustíveis. No fundo, aqueles que conhecem o problema na raiz e que trabalham para contribuir para que aquilo a que chamamos resíduos seja corretamente encaminhado para ser transformado em matéria-prima.

Começamos pelo Algarve, pela empresa responsável pelo tratamento holístico de óleos alimentares usados no território sul do país, a Reciclimpa. O seu trabalho começa na análise da qualidade dos óleos utilizados pelo setor da alimentação e bebidas, passa pela filtragem, recolha e tratamento dos óleos alimentares usados (OAU) e termina na sua recolha e, posterior, higienização das fritadeiras.

Tudo isto começou no ano em que virou o século, mas a ambição de ajudar o setor hoteleiro e alimentar em todas as etapas da utilização dos óleos, levou a Reciclimpa a aumentar a abrangência do seu serviço ao longo dos anos. Atualmente, disponibilizam, ao longo do território algarvio, quatro mil pontos de recolha e cerca de 300 oleões, que, em conjunto, possibilitam a recolha de cerca de 1 milhão de litros de OAU por ano. Além dos óleos, recolhem, anualmente, 200 a 300 toneladas de separadores de gorduras e limpam, consoante a época do ano, entre 300 e 800 filtros de extração de gorduras por dia.

Mais a norte, a responsável pela recolha e reciclagem de óleos alimentares usados é a EcoMovimento, que, na vertente de recolha direta, está presente em oito distritos da região(Braga, Viana do Castelo, Porto, Aveiro, Vila Real, Bragança, Guarda e Viseu).Além da recolha, é, também, responsável pela produção e pelo fornecimento de produtos intermédios de origem residual para a indústria dos biocombustíveis.

No ano de 2020, a empresa vimaranense processou 815 mil litros de óleo alimentar usado. Este ano, só no primeiro semestre, quase duplicaram este valor, o que alimenta a esperança deque, no final deste ano alcancem a meta do 1 milhão de litros, o que significaria um crescimento de volume de processamento de 30%.

Também a norte encontramos a EGI, responsável pela recolha e triagem de óleos alimentares usados na região do Grande Porto, Marco de Canaveses, Vizela, Vale de Cambra, nos estabelecimentos comerciais SONAE na zona norte do país e, em breve, também em Coimbra.

A EGI tem voltado as suas forças para o setor doméstico, aquele que, até hoje, carece de mais incentivos e sensibilização. Ainda assim, e como o seu objetivo é conseguir ajudar todos os habitantes da zona norte e centro a fazer a correta recolha dos óleos alimentares usados, esperam alargar o seu âmbito de trabalho ao canal HoReCa já em 2022.

Em 2020, através dos seus cerca de 600 oleões recolheram274 toneladas de OAU e em 2021 a perspetiva é que alcançarão as 335 toneladas. Para somar a essa quantia, em conjunto com a Maia ambiente, no âmbito do projeto “Porta-a-porta” recolheram, em 2021, 15 toneladas de OAU que, assim, serão corretamente encaminhados para a produção de biodiesel.

Num outro âmbito de trabalho, mas também a norte, encontramos a Resiway, uma empresa especializada em operação egestão de resíduos, nomeadamente, de óleos alimentares usados (OAU),refinando-os e encaminhando-os para a indústria do biocombustível.

Quando a Resiway nasceu, em 2016,ainda não se falava em biocombustíveis avançados em Portugal e o mercado nacional de biodiesel estava ainda a dar os primeiros passos no sentido de se apetrechar tecnologicamente de capacidade para processar matérias-primas de origem residual com maiores teores de acidez e contaminantes. Nos primeiros três anos, o mercado de destino da sua produção foi Espanha. Hoje, quando se fala em biocombustíveis avançados ou em matérias-primas para esta indústria fala-se em Resiway. Em 2021, já conseguem afirmar que 80% da sua produção é utilizada em Portugal.

Para comprovar que o seu contributo é o que a torna uma referência no mercado, em 2020, a Resiway tratou cerca de 25 mil toneladas de resíduos, produziu e colocou no mercado cerca de11 de mil toneladas de matérias-primas secundárias para o setor dos biocombustíveis. Com essa matéria-prima, foram produzidos biocombustíveis que, após serem introduzidos no setor dos transportes, em substituição de combustíveis fósseis, reduziram na ordem das 36 mil toneladas as emissões de CO2. Como se tudo isto não fosse suficiente, recuperaram mais de 12 mil m3 de águas residuais para tratamento, que sem o seu trabalho, teriam sido desperdiçadas.

Esta reflexão reflete a perseverança do setor da bioenergia avançada em Portugal, que, mesmo numa altura em que o mundo enfrentou uma crise na qual reinou a incerteza, não deixou para trás a inovação e o investimento no futuro renovável. Quando falamos em atingir a neutralidade carbónica, falamos num caminho para substituir o petróleo por outras soluções e ao criarem estas soluções os associados da ABA - Associação de Bioenergia Avançada estão a pensar no futuro de todos.

Assim, apesar da sua dimensão, estas empresas mantêm a aposta nestes projetos, mesmo que implicam apesar de significarem um investimento muito considerável, e provam a importância do seu contributo para um amanhã mais verde.