2/17/2022

O que será dos motores a combustão?

A aproximação dos anos definidos como centrais para o alcance da neutralidade carbónica em 2050, sobrecarrega a necessidade de encontrar soluções o mais rapidamente possível. Contudo, neste caso o rápido não pode ser inimigo do bom. É fundamental que as alternativas encontradas permitam não só reduzir as emissões de gases de efeito estufa no setor dos transportes, como também responder a outros desafios ambientais e sociais, também eles fundamentais para o alcance da neutralidade carbónica.

Da COP26 saiu a promessa, por parte de alguns países, de eliminar os carros com motor a combustão até 2035 nos principais mercados e até 2040 a nível global. Portugal foi um dos países que não se comprometeu, acredito que, por saber que o problema não está no tipo de motor dos veículos, mas sim no tipo de combustível que os alimenta.

Sabemos que o futuro é um mix energético, onde se enquadram todas as soluções que permitem descarbonizar o setor dos transportes, desde a mobilidade elétrica a uma maior incorporação de biocombustíveis de resíduos e outros avançados. Todos contribuem para o alcance da neutralidade carbónica. Assim, a solução passa, não por eliminar um tipo de mecânica, mas por adaptá-la e reinventá-la de forma que todos possamos ser mais sustentáveis.

Em seguida, apresentamos alguns casos que se destacaram no último ano:

 

A união de forças entre a PRIO e a Carris

A portuguesa PRIO, através da Prio Bio, que é a maior produtora nacional de biocombustíveis a partir de resíduos, vieram provar que a sua estratégia está alinhada com os objetivos de desenvolvimento sustentável portugueses - tanto em território terrestre, como em marítimo. Em 2021, a Prio juntou-se à Carris num projeto com vista à descarbonização da mobilidade, o Beato BioBus, abastecendo oito autocarros com zero diesel, um combustível livre de petróleo, por ser produzido exclusivamente através de matérias-primas residuais, e capaz de reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Além disto, também a economia circular está bem presente neste projeto, já que vão ser instalados oleões para a recolha de óleos alimentares usados que, posteriormente, irão ser transformados nos biocombustíveis utilizados. Comeste programa, será possível poupar cerca de 400 mil litros de gasóleo e 1100 toneladas de emissões de CO2, anualmente.

O caso da Toyota, Subaru, Mazda, Yamaha e Kawasaki

No final de 2021, cinco marcas japonesas anunciaram o compromisso de unir esforços para desenvolver tecnologias e aumentar a variedade de combustíveis usados pelo motor de combustão interna. O objetivo é não desperdiçar as décadas de investimento dedicadas ao desenvolvimento deste tipo de motorização, que ainda é a mais utilizada em todo o mundo.

Essa foi a mensagem conjunta transmitida por representantes do quinteto na Super Taikyu que decorreu em Okayama, a competição que serviu de “laboratório” para validar as novas apostas tecnológicas.

A Mazda anunciou que, na classe ST-Q, iria fazer-se representar com o protótipo Mazda Spirit Racing Bio concept Demio - um veículo animado pelo motor SkyActiv-D de 1,5 litros, alimentado por biodiesel, produzido a partir de óleos alimentares e gorduras animais, já que este combustível alternativo funciona sem exigir qualquer alteração da mecânica. Segundo os testes feitos pela marca, o resultado é uma redução de emissões significativa, que não influencia em nada a performance do carro. Já a Toyota e a Subaru, levaram para a competição um carro baseado no GR86 movido a combustível sintético, neutro em carbono, derivado de biomassa.

A Scania

Com o objetivo de tornar mais sustentáveis os veículos com motor a diesel, a Scania Group lançou um novo motor de 13 litros que reduzo consumo em, pelo menos, 8%. O motor combina um par de caixas de velocidades Opticruise, o recentemente lançado G33CM e o novo G25CM, que contribuem com 1% para a melhoria global da eficiência do combustível. Todas as versões deste novo motor de 13 litros aceitam diesel verde e duas delas são adaptáveis para utilizar biodiesel a 100%.

Embora existam planos para comercializar veículos pesados elétricos já em 2023, a falta de infraestrutura é ainda um impedimento à sua concretização. Assim, a aposta da marca, até lá, à semelhança do que vimos no caso das marcas japonesas com os veículos ligeiros, passa por aumentar a eficiência dos motores de combustão.

 

O caso da Deutsche Bahn

No mundo dos comboios, foi a Deutsche Bhan amais recente operadora ferroviária a tornar públicos os seus planos para aumentar a sustentabilidade da sua operação. A Deutsche Bahn afirmou que os seus 3 mil veículos serão gradualmente adaptados para se moverem a energias renováveis até 2040. Deste mix energético fazem parte os biocombustíveis de resíduos e outros avançados e outras soluções como a eletricidade. O objetivo é eliminar, na totalidade, os combustíveis fósseis dos planos de mobilidade da empresa.

O Dakar 2022

Em2022, a edição do rali mais exigente do mundo realizou-se exclusivamente na Arábia Saudita. Contudo, as novidades não se ficaram pela alteração no percurso, visto que se manteve o trajeto do ano transato. À semelhança da prova japonesa, o Dakar 2022 foi mais uma prova automobilística que serviu de “laboratório” para o desenvolvimento de soluções tecnológicas a ser adotadas posteriormente nas viaturas comuns.

A surpresa começou com o carro elétrico e a combustão apresentado pela Audi. O RS Q e-tron, apesar de ser um protótipo de competição elétrico, precisou de um gerador a combustão, responsável por carregar as baterias nas longas etapas. Já os três carros do Bahrain Raid Xtreme (BRX), inovaram ao utilizar um novo combustível sustentável, denominado Prodrive EcoPower. Este é um biocombustível de 2ª geração, produzido a partir de resíduos agrícolas e da captura de carbono, que reduz as emissões de gases com efeito de estufa em 80%,quando comparado com a gasolina de origem fóssil.

O caso da VALPI Bus

Também a VALPI Bus está a apostar na redução de emissões dos seus autocarros e a contribuir para um país mais sustentável, através da utilização de 30% de biocombustíveis, produzidos pela Bioport, empresa do mesmo grupo e nossa associada, no combustível consumido pela sua frota. Se dúvidas restassem quanto à eficácia e qualidade dos biocombustíveis produzidos a partir de resíduos, a empresa tem autocarros que juntos já percorreram mais de3.000.000 km com B30 (biocombustíveis produzidos a partir de resíduos), o que equivale a reduções de aproximadamente 57 toneladas de CO2, isto é o equivalente a um carro convencional movido a diesel percorrer 150 vezes o percurso da volta a Portugal (em 2020 o percurso da volta a Portugal contabilizou cerca de 1200 km percorridos).

Numa altura em que ambicionamos alcançar a neutralidade carbónica, negar a necessidade de desenvolver alternativas para os motores a combustão, é colocar de parte a maior fatia do problema, já que, a grande maioria dos países e das suas populações é ainda movida a veículos com este tipo de mecânica.

Os passos dados por todas estas empresas são sinais que nos provam, mais uma vez, ser possível descarbonizar o setor dos transportes, sem mudar de carro e que a bioenergia avançada é a solução mais rápida, justa e eficaz para a descarbonização do setor dos transportes. Além disso, relembram toda a Europa de que esta pode e deve ser a solução para atingir as metas definidas para alcançar a neutralidade carbónica em 2050