15/8/2021

Dinheiro Vivo: "Eco-Oil ajuda a descarbonizar a indústria e aponta aos navios"

A transição energética está em marcha, mas ainda de forma muito lenta no que ao transporte marítimo diz respeito, para o qual as atuais tecnologias não são, ainda, uma solução viável. A aposta mais simples parece ser a incorporação de biocombustíveis e a Eco-Oil, empresa de Setúbal, está apostada em chegar a esse segmento de mercado, promovendo a economia circular.

Criada em 2001, para tratar as águas contaminadas dos navios tanque destinados ao estaleiro de reparação naval da Lisnave, a Eco-Oil é hoje a companhia portuguesa com maior capacidade instalada para o tratamento de águas contaminadas com hidrocarbonetos, os quais transforma num combustível 100% reciclado e de baixo teor de carbono.

O fuel óleo produzido com a designação nr 4 BTE - Baixo Teor de Enxofre é vendido pela empresa desde 2015, desde que instalou uma pequena refinaria na sua unidade, localizada no Porto de Setúbal, alimentando o setor industrial "de forma mais ecológica e eficiente". E a procura tem sido crescente.

Recicla atualmente 96% dos resíduos que recebe e no início do ano lançou a marca EcoGreen Power, com que abastece clientes industriais, como empresas de laticínios nos Açores, designadamente a fábrica da Ribeira Grande do grupo Bel, detentor de marcas como A Vaca que Ri ou Terra Nostra, mas também as cimenteiras Secil e Cimpor ou o grupo Navigator, entre outros.

O uso deste combustível permitiu que os clientes da Eco-Oil reduzissem as suas emissões de CO2 em mais de 3600 toneladas, para além de outros gases com efeito de estufa, além de uma redução substancial na emissão de partículas e cinzas. Tudo isto, assegurando um rendimento melhorado de 4% a mais comparativamente aos combustíveis fósseis: "Devido ao seu rendimento aumentado, o EcoGreen Power permitiu aos seus utilizadores pouparem mil toneladas de combustíveis fósseis", pode ler-se no Relatório de Sustentabilidade da Eco-Oil.

Procura em crescendo

Vendeu, no ano passado, 24 mil toneladas deste eco-combustível, mais 20% do que no ano anterior, e continua, este ano, a crescer em ritmo acelerado: vendeu quase 17 mil toneladas no primeiro semestre e prevê fechar o ano nas 33 a 34 mil toneladas.
"A pandemia trouxe uma consciência ambiental aumentada, que faz com que os clientes procurem ser cada vez mais produtos sustentáveis e o EcoGreen Power responde a esse desejo, já que, não sendo um combustível renovável, é um combustível 100% reciclado", diz Nuno Matos, diretor-geral da Eco-Oil.

A empresa tem a quinta maior instalação da Europa para tratamento de águas contaminadas, e vai continuar a fazê-lo, mas o grande foco é produção deste combustível 100% reciclado. "É a nossa resposta à transição energética. A atividade marítima é a grande origem destes resíduos que reciclamos e não há nenhuma forma de energia que permita, ainda, que os navios de longo curso possam operar em condições economicamente eficientes. Estima-se que, pelo menos até 2050, os combustíveis fósseis continuem a ser usados na navegação marítima e enquanto assim for o EcoGreen Power é a alternativa para quem quiser ter uma abordagem mais sustentável, substituindo o combustível original e permitindo que os princípios da economia circular sejam aplicados na sua totalidade", sublinha.

Duplicar a capacidade

A Eco-Oil tem uma nova ambição, criar um combustível melhorado, o EcoGreen Power Plus, que possa ser novamente utilizado nos navios. O processo já está testado a nível laboratorial, a empresa está a fazer o scale-up. O objetivo é duplicar a sua capacidade produtiva na unidade de Setúbal, para as 60 mil toneladas por ano que tem licenciadas, um investimento que, calcula, possa rondar os dois a três milhões de euros.

"Procuraremos ver se, ao nível da Inovação Produtiva do Portugal 2020 ou do próprio Plano de Recuperação e Resiliência, conseguiremos candidatar e aprovar este projeto de investimento, que é muito ambicioso", explica. Na prática, a intenção é duplicar a capacidade produtiva atual, mas direcionada à expansão para novos mercados por via do novo combustível melhorado.

"Vamos produzir mais, mas sobretudo melhor, mantendo os nossos clientes atuais e expandindo para novos mercados, os fornecedores de combustível para navios, em portos de grande volume de movimentação. Ainda recentemente tivemos cá uma delegação de empresas que estão a fazer o fornecimento de bunker (combustível para navios) no porto de Roterdão e que estão interessadíssimos em incorporar o nosso combustível", adianta Nuno Matos.

Nascida no seio do grupo José de Mello, em 2001, a Eco-Oil foi comprada em 2006 por quadros da empresa, através de um processo de management buy out. Distinguida com o prémio PME Excelência em 2020, é uma empresa altamente automatizada, que dá emprego a 20 pessoas e gerou, em 2020, um volume de negócios de quase oito milhões de euros. O objetivo, este ano, é chegar aos nove milhões.

Ilídia Pinto
Dinheiro Vivo

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