17/3/2022

Smart Societies: "Nova plataforma defende papel dos combustíveis de baixo carbono para transição energética sustentável"

Com o objectivo de destacar o papel dos combustíveis de baixo carbono, bio ou sintéticos, para a descarbonização da mobilidade, oito associações lançaram, ontem, a Plataforma para a Promoção de Combustíveis de Baixo Carbono – Plataforma PCBC. Durante o decorrer da apresentação pública, no Hotel D. Pedro, em Lisboa, as entidades expressaram que estes combustíveis são uma via para a descarbonização “que não está a ser completamente explorada”.

Os combustíveis de baixo carbono, sejam biocombustíveis (gerados a partir de biomassa sustentável, agrícola e florestal, resíduos) ou combustíveis sintéticos (combinação de gás de hidrogénio e dióxido de carbono), podem ter um contributo relevante na transição energética – é este o pressuposto dos oito membros que motivou a criação da Plataforma PCBC. Afirmando o compromisso com a descarbonização, as associações, entre os quais a Associação de Biocombustíveis Avançados (ABA) e a Associação Portuguesa de Produtores de Biocombustíveis (APPB), querem que esta plataforma sirva como um fórum para a troca de ideias e melhores práticas sobre como transformar todos os modos de transporte de forma “sustentável, progressiva e acessível a todos”.

“Temos a mesma ambição”, destacou Ana Calhôa, representante da ABA, durante a cerimónia de lançamento da Plataforma PCBC. À semelhança desta entidade, os restantes membros assumem com esta iniciativa o desejo de contribuir para uma “transição energética [que] seja progressiva e inclusiva, assente em três pilares – segurança do sistema energético, social e ambiental”, promovendo também a economia circular e a eficiência da frota.

Na opinião das associações que integram a nova plataforma, aumentar a probabilidade de se atingirem os objectivos propostos até 2050 passa por se abrir caminho a “soluções realistas”, que aproveitem a frota, as infraestruturas e os postos de trabalho já existentes, e que não ignorem o contexto social, como, por exemplo, o facto de a pandemia de Covid-19 ter levado algumas pessoas a optarem pelo transporte individual.

FUTURO PASSA POR MIX E NÃO APENAS PELA ELECTRIFICAÇÃO

A via da electrificação tem sido amplamente preconizada pela União Europeia para a transição para uma mobilidade mais sustentável. Embora, na opinião deste conjunto de associações da Plataforma PCBC, seja uma opção relevante, não pode ser única. “Se apostarmos numa solução de só usarmos a via da electrificação, vamos demorar muitos anos para atingir as metas. Nós conseguimos contribuir desde já para a redução de emissões”, salientou Jaime Braga, representante da APPB. Só os biocombustíveis avançados, disse Ana Calhôa, são capazes de alcançar “reduções superiores a 83 a 86% em comparação com os combustíveis fósseis”.

João Mendes Dias, director-geral de Operações do Automóvel Club de Portugal (ACP), que também compõe a nova plataforma, acrescentou ainda que os veículos eléctricos, apesar da “grande penetração”, não representam uma fatia “suficiente nem rápida o suficiente” para atingir os objectivos da neutralidade carbónica. Apontando para cerca de 6,5 milhões de carros ligeiros, de passageiros e de mercadoria, o representante da ACP frisou que “não deixar ninguém para trás significa não obrigar ninguém a fazer um investimento que não pode”, pelo que é necessário mobilizar “todas as tecnologias”.

Acreditando que o futuro passa pelo mix de formas de energia, Jaime Braga reforçou que as tecnologias de baixo teor de carbono são uma via para a descarbonização que não está a ser completamente explorada” e que não deve ser “ignorada”.

Quanto às limitações dos biocombustíveis, o representante da APPB afirmou que há espaço para aumentar a incorporação de biocombustíveis para a redução da utilização de combustíveis fósseis. Já questionado sobre o facto de o preço destes combustíveis não ser tão acessível, o representante da APPB admitiu que hoje são “caros”, mas relativizou a questão lembrando não só a conjuntura actual de preços recorde na energia como o facto de também as energias renováveis terem sido vistas, anteriormente, como uma aposta cara. “O que hoje é absurdamente caro, amanhã é competitivo”, argumentou, rematando que com ajuda é possível criar uma economia de escala e colocar os biocombustíveis no mercado a preços competitivos.

Assim, outro dos desígnios da Plataforma PCBC é apelar às instituições nacionais e europeias que elaborem um quadro legislativo que valorize e apoie este tipo de tecnologias. “O que se pede [aos decisores políticos a nível europeu e nacional] é um modelo dinâmico para que possam aparecer alternativas novas ou velhas” e para que se “retirem restrições que impedem o desenvolvimento de algumas tecnologias”, declarou António Comprido, secretário-geral da Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas (APETRO).

PLATAFORMA ESTÁ ABERTA A MAIS PARTICIPANTES

Além da ABA, do ACP, da APETRO, integram também a Plataforma PCBC a Associação Nacional de Revendedores de Combustíveis (ANAREC), a Associação Nacional das Empresas do Comércio e da Reparação Automóvel (ANECRA), a Associação Portuguesa de Operadores de Resíduos para Bioenergias (APOREB) e a Associação de Empresas Distribuidoras de Produtos Petrolíferos (EDIP).

Os oito elementos aproveitaram o lançamento da plataforma para convidarem outras entidades interessadas a juntarem-se à Plataforma PCBC. “Queremos que mais se possam juntar”, destacou Ana Calhôa, da ABA. Na plateia, a Associação Portuguesa para a Promoção de Hidrogénio mostrou-se receptiva à adesão num futuro próximo, considerando o hidrogénio um dos grandes beneficiários do investimento em tecnologia de combustíveis sintéticos.

Sónia Sul
Smart Cities

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